sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Elevador




Passo meu perfume mais caro, espero dar o horário. De quarta você não vai, dá até pra sentir sua falta. Estamos no elevador. E mesmo que nem te conheça direito, te como em pensamento todos os dias à 7. Imagino-me arrancando sua gravata desesperadamente, sua camisa toda engomadinha, branca, de doutor recém formado. Te encosto contra a parede, devorando sua marra de intelectual, mostro o lado mais belo de toda a minha ignorância. Você parece gostar de toda essa safadeza, parece se animar. Mal percebe que temos apenas treze andares para consumar meu desejo, mais seu desejo. O tempo dessa distância se desfigurou. Normalmente parece tão pouco, mas na minha mente dura um infinidade. A infinidade que me permite ser seu, e você meu. O corpo que nunca desvendei é campo perfeito para minhas imaginações. Faço tanta coisa e você nem sabe. Ou sabe, e por isso sorri pra mim dizendo "bom dia, será que hoje chove?".

(Aquecimento para a Corrente Literária "Sex: Just do it!")

Um comentário:

  1. Que delicioso o seu texto, Milena.
    Parabéns, a gente percebe o sexo sendo feito. Entrei nesse elevador.
    Que fetiche!

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